segunda-feira, 24 de junho de 2013

O QUE SÃO E QUAL A NOVIDADE DESTES PROTESTOS?

     Antes de qualquer coisa, os protestos atuais devem ser entendidos como o grito dos oprimidos; como a voz do povo arranjando seu jeito de ser ouvida. Estamos falando de um movimento que está acontecendo agora, por isso talvez as críticas disponíveis ainda não sejam suficientemente esclarecedoras para sabermos a real magnitude disso tudo. O que posso afirmar é que ao contrário do que afirmou Immanuel Wallerstein, isto não tem nada a ver com políticas de esquerda. 2013 não é um ano bom para ninguém que defenda a política opressora tradicional, não importa se é de esquerda ou direita, pois este é o ano onde nós percebemos que se trata da luta dos 99% contra 1%, queremos o Brasil de volta, sabemos usar as redes e vamos as ruas. Julgo que os protestos são uma forma de aversão a toda forma de opressão, seja ela econômica, política, ou cultural. Estamos interessados em propostas totalmente novas. A resposta mais fiel ao espirito dos protestos que um manifestante pode dar à pergunta “-Qual é a proposta política de vocês?”, julgo que é: “-Não temos nenhuma proposta, mas sabemos que não estamos satisfeitos com as propostas atuais. Queremos algo novo. Chega de remendos!”.

     Aliás, nada é mais injusto frente aos novos protestos do que tentar entende-los a partir de uma série de perguntas do tipo: qual a proposta, o que vocês querem, por que vocês estão aqui, etc. Estas perguntas só são esclarecedoras dentro da lógica opressora tradicional, pois tudo que buscam é reduzir a força revolucionárias dos movimentos em uma série de conceitos facilmente entendíveis, distorcidos e manipuláveis. Isso certamente deu um nó na cabeça dos mais tradicionais, não só dos opressores, mas também dos ativistas e estudiosos revolucionários. O fato é que muito além da causa defendida, todo protesto deve ser entendido como uma luta contra o sistema.

     David Harvey ressalta a união dos corpos no espaço público como a grande marca destes movimentos. Não só ele mais a maioria dos analistas que li, acreditam que o retorno das discussões políticas às praças públicas tiveram muito mais importância do que os fluxos de comunicação pela internet. Neste ponto estão certos, porém não muito...

     A indignação contra o sistema e sua lógica opressora não é de hoje. Porém estávamos condicionados a acreditar que se tratava de uma indignação solitária e pontual. A comunicação em redes, as pesquisas online e a propagação da informação sem comprometimento através de blogs e wiks nos colocou em contato com milhões de indignados de todo o mundo, algo completamente impensável dentro da lógica da antiga Indústria Cultural(Mídia, Rede Globo, plin-plin). Em pouco tempo a internet fez ver que éramos 99% de oprimidos lutando contra apenas 1% de opressores. O Brasil é nosso, não deles!

     O primeiro e fundamental passo em direção a uma democracia melhor foi dado na internet. As manifestações em praça públicas foram apenas um segundo passo deste acordar. Não há nada de novo na utilização de ocupações de espaços públicos e privados como forma de protesto, vimos muitas vezes sindicatos, partido políticos e até o MST ocupar todo tipo de lugar, bem como vimos que o uso da violência é extremamente eficaz contra este tipo de protesto. O calor humano e as aglomerações podem ser facilmente dissipados com o uso de bombas e tiros: a guerra civil que a Síria vive atualmente reflete exatamente o que estou dizendo. Porém como o mundo virtual é um ambiente criado pelo ser humano e que pode ser manipulado e reconfigurado por qualquer hacker, todo tipo de bloqueio impostos contra manifestações online sempre pode ser facilmente superado. Julgo que os novos protestos devem ficar marcados na história não por suas semelhanças com velhas revoluções, mas sim por sua novidade fundamental que está baseada no uso da web 2.0 em favor dos oprimidos.
Quando a ocupação acaba, a revolução continua e se intensifica nos ambientes públicos e democráticos do mundo virtual. Para mim, esta é a quebra paradigmática na forma de se fazer revoluções que será lembrada daqui muitos anos quando se falar 2013.
(Filósofo Fabio Goulart)

Comentários
1 Comentários

Um comentário:

  1. Acho magnífico que estejamos rompendo com o partidarismo e as ideologias maniqueístas. Buscar a concretização de seus direitos é a máxima de qualquer país que efetivamente se expresse de forma democrática. Acredito que estejamos saindo de nossa visão estreita de país e atingindo o estágio evoluído de nação.
    Vamos à luta!
    Filósofo S. Wagner Vieira

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