sexta-feira, 9 de março de 2012

E quando eu voltar a ser criança.

Quando era mais novo, costumava dizer que as crianças têm sonhos, os jovens e adolescentes têm planos e os adultos têm bens e dívidas. Eu não sabia, bem ao certo, o que estava dizendo, mas a cada dia que passava e me aproximava da passagem da juventude para a vida adulta, esta frase me incomodava cada vez mais e começava a fazer um grande sentido.

Pesquisas científicas dizem que durante o primeiro ano de vida o cérebro humano se desenvolve tão fantasticamente que “se esquece” de fazer com que o corpo aprenda a caminhar. Será que além de caminhar nosso cérebro não esqueceu “algo mais” lá na infância? Antes eu contava os dias para fazer dezoito anos e agora me pergunto: e quando eu voltar a ser criança? Vou fazer tudo de novo ou vou fazer tudo novo?
É evidente que o tempo não para e nem poderá voltar, mesmo que somente desta vez... Mas gosto deste ledo engano... Gosto de ter essa falsa esperança.
O que mais me fascina na criança é a constante vontade de descobrir e conseguir se fascinar com as mais simples descobertas “sensitíveis” do dia-a-dia. Ainda me lembro dos meus dias de jardim de infância onde corríamos todos enlouquecidamente para andarmos de balanço. Aquilo era uma sensação incrível, me trazia um prazer imensurável! Hoje voltei a andar de balanço, mas não consegui sentir nada de especial... É como se algo realmente tivesse ficado para traz, mas o que será que deixei na minha infância?
Enquanto eu “adultecia” virei um jogador de videogame, comemorando e descobrindo cada novo jogo com suas histórias e fases desafiadoras. Apaixonei-me pelas músicas da Legião Urbana, lembro-me que cada música que escutava pela primeira vez me trazia um “mix” de emoção e força que até hoje não consigo explicar. E assim fui vivendo uma série arrasadora de experiências “sensitíveis”... o primeiro amor, o primeiro beijo, a primeira vez sobre um palco de teatro, a primeira medalha, a primeira vez com um banquinho e o violão, a primeira transa sexual, o primeiro emprego, a primeira demissão, a primeira cavalgada, a primeira habilitação, o primeiro tiro, a primeira banca, a primeira vez no SPC, o casamento, o primeiro carro, a primeira casa, o nascimento da minha filha, etc...
        “Mas de uns tempos pra cá, meio sem querer”, a vida tem se tornado meio chata. Tudo parece ser tão igual e os sentimentos da descoberta e da surpresa estão cada vez mais difíceis de aflorar em meu coração.

Estou ficando velho, cheio de dívidas, bens, deveres e preocupações... Estou ficando cada vez mais adulto e acho que é isso que separa o jovem do adulto: a naturalidade com que vemos o mundo.
Acho que deixei “algo” perdido na minha infância e tenho a esperança que novas experiências, como observar o desenvolvimento da minha filha, me ajudarão a encontra-lo.
Fabio Goulart 2006-2012.




 Trago-lhes este texto em formato de crônica para que desfrutem despudoradamente. Escrevi este texto originalmente quando tinha obscenos 18 anos. Hoje à tarde o achei em meio a algumas coisas velhas resolvi reescreve-lo trazendo a experiência e o conhecimento dos meus atuais 24 anos. BOA LEITURA!!! Se CURTIR não se esqueçam de COMPARTILHAR com os amigos e recomendar o blog www.filosofiahoje.com ABRAÇOS !!!


Comentários
4 Comentários

4 comentários:

  1. boa Fábio, buscou a unidade sob uma forma paradoxal composta de Razão, ademais daquele "feeling"... muito bom o texto. lembre-mos aqui do palpite que o secretário do Husserl lhe deu, no ultimos momentos de sua vida: "não seria a redução eidética (apoche) o ato de admirar as coisas, em seu puro estado? fique em paz!

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  2. Adorei! 'Vou fazer tudo DE NOVO ou vou fazer tudo NOVO?' ;)

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  3. Adorei! Falou algo interessantíssimo e universal: "Tudo parece ser tão igual e os sentimentos da descoberta e da surpresa estão cada vez mais difíceis de aflorar..." TRISTE REALIDADE.
    Mas e ai? "Vou fazer tudo DE NOVO ou vou fazer tudo NOVO???" Eis o que nos tira varias noites de sono...

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  4. Pois é... Cada vez mais a sociedade encurta nossa infância e sobra um monte de sonhos não vividos...

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