segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

2.7 CURRÍCULO RACIONAL

     Geralmente quem elabora um currículo o elabora para alunos do ano ou nível


que utilizarão este currículo. Teoricamente ele é elaborado com conteúdos que


estão sempre um nível acima em relação ao nível que os alunos se encontram.

Estes supostos níveis são estabelecidos através da reunião de dados e informações

empiricamente verificáveis acerca do conteúdo aplicado em sala de aula. Lipman

considera que as associações que são feitas entre crianças de um determinado ano

e as mesmas crianças no ano seguinte, são puramente causais e não lógicas.

     Devido a isso, o currículo que for concebido utilizando-se destes pressupostos não

demonstrará nenhum desenvolvimento racional de ano pra ano. Estará apenas

despejando novos conteúdos e aumentando o vocábulo dos alunos. Mesmo se os

alunos demonstrarem algum crescimento lógico entre um ano e outro, este

crescimento será atribuído ao desenvolvimento psicológico normal em crianças

desta idade:

                                                       “Fabricantes de currículos, ao que tudo indica, habitam um universo onde

                                                         existem estágios de maturação e não uma elaboração da racionalidade.

                                                        Assim sendo, não há necessidade de se colocar em risco a boa ordem das

                                                       coisas através de uma introdução supérflua de operações lógicas
                                                       sequenciais.”24(LIPMAN, 1995, p. 321-322)

     Para a elaboração de um currículo racional, primeiramente é necessário crer

que os alunos reagem de acordo com a maneira de são tratados. Assim sendo, se

forem tratados como seres desinteressados e acríticos, tenderão a ser

desinteressados e acríticos, “trate-os como idiotas, e nos darão muitas provas de

que estamos certos”. (LIPMAN, 1995, p. 322)

      Mais do que apenas crer que se forem tratados como seres inteligentes e

racionais os alunos tentarão, com toda certeza, ser seres inteligentes e racionais, os

responsáveis pela elaboração do currículo escolar devêm tornar tais currículos

lógicos e racionais, abandonado os currículos tradicionais que preveem uma

evolução mecânica baseada em níveis observacionais e no despejo e absorção dos

conteúdos.


     Depois disso é necessário que se de busque as habilidades que antecedem

as habilidades cognitivas, para que se estimulem primeiramente práticas primitivas

que irão permitir que os alunos apliquem habilidades superiores em um próximo

nível:

                                            “Se[...] queremos que os alunos descubram as semelhanças entre coisas que

                                            são muito diferentes e dessemelhanças entre coisas que são muito

                                            parecidas[...] primeiro devemos fortalecer sua capacidade para discernir

                                            semelhanças e diferenças em geral.[...] envolvê-los na realização de

                                            comparações.[...] consequentemente[...] irão discernir aspectos entre coisas

                                            iguais e aspectos entre coisas que não são iguais, e aprenderão também a

                                            utilizar os critérios fundamentais de identidade e diferença.” (LIPMAN, 1995,p. 322)

     Ao contrário do currículo tradicional que é afirmativo e positivo, o currículo

racional deverá enfatizar o negativo. Ele deverá primar pelas diferenciações, pelos

questionamentos, pela coragem de explorar novas alternativas e pelo ímpeto de

discordar. Só assim atingirá o objetivo de capacitar os alunos a apresentarem um

pensar independente.25

     Por fim, é indispensável que o currículo seja elaborado de maneira racional o

mais cedo possível. Lipman afirma que o ideal é que isso seja feito já na pré-escola,

pois nesta fase as crianças estão aprendendo as habilidades sociais que a

Comunidade de Investigação pressupõe, (LIPMAN, 1995, p. 323) só assim os alunos

poderão passar rapidamente para o pensar de ordem superior e lá permanecer por

to sua vida escolar.
 Este texto faz parte do trabalho chamado “Crítica a Escola” escrito por mim, Fabio Goulart. Para fazer o Download do trabalho Completo CLIQUE AQUI. Todos os dias será postado um novo texto deste trabalho aqui no site! Boa Leitura!
24 É evidente o tom de ironia do autor na passagem “[...] não há necessidade de se colocar em risco a

boa ordem das coisas através de uma introdução supérflua de operações lógicas sequenciais”. Com

esta passagem ele tenta mostrar a que ponto pode chegar a não racionalidade na elaboração do

currículo escolar. Também podemos observar que ele utiliza a expressão “Fabricantes de currículos”,

dado ainda mais a ideia que os currículos tradicionais são mecânicos e acrítico.

25 Em nosso país é normal associarmos a ideia de ‘reforma curricular’ com a ideia de ‘acrescentar e

retirar disciplinas da grade curricular’. Julgo que se uma escola se empenhar na busca de tornar seu

currículo racional, certamente irá obter resultados muito mais interessantes do que se ficar esperando

por projetos de lei “milagrosos” que incluam disciplinas “mágicas”.

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