terça-feira, 13 de dezembro de 2011

2.1 A REESTRUTURAÇÃO DO PROCESSO EDUCACIONAL



     Para Lipman existem dois paradigmas contrastantes na prática educativa.

(LIPMAN, 1995, p. 28)

          A) Paradigma padrão da prática normal.

          B) Paradigma reflexivo da prática crítica.

O paradigma A carrega os seguintes pressupostos:

     A1: A educação consiste na transmissão de conhecimento. Assim sendo

existem aqueles que sabem e ensinam e aqueles que não sabem e aprendem, os

níveis de aprovação e as notas são as metas centrais de alunos e professores;

     A2: O conhecimento se refere ao mundo não havendo espaço para o

equivoco ou o ambíguo;

     A3: Existem disciplinas diferentes que não coincidem, mas que juntas formam

o universo do conhecimento;

     A4: O professor é uma autoridade no processo educacional, os alunos só

aprenderam aquilo que o professor sabe e transmite;

     A5: Os alunos só aprendem através da absorção das informações

transmitidas.


Por outro lado os paradigmas de B são:

     B1: A educação consiste na participação da Comunidade de Investigação, o

professor assume o papel de orientador e as metas de alunos e professores são o

desenvolvimento da compreensão e do julgamento;

     B2: O conhecimento se revela ambíguo e equivoco, devido a isto, os alunos
são estimulados a pensar sobre o seu mundo; 11

     B3: As disciplinas devem possuir questionamentos que transcendem seus

limites. Devem tanto serem criados problemas interdisciplinares quanto se deve

questionar a suas metodologias e lógicas internas;

     B4: O professor deve estar pronto para assumir erros, devendo manter seu

papel de orientador, porém sem se tornar autoritário;

     B5: Sempre deve haver a expectativa que os alunos irão pensar, refletir e

desenvolver sua razão para o julgamento. Deve-se abandonar qualquer crença de

que os alunos são seres passivos no processo ensino-aprendizagem;
     B6: A Escola não deve estar voltada a simplesmente transmitir uma série de

conteúdos e informações para os alunos, seu enfoque deve ser o desvelar das

relações contidas dentro dos termos investigados.

A educação tradicional, tal como é encarada pela maioria dos professores e

escolas da atualidade brasileira, carrega com sigo o paradigma padrão. Do outro

lado, o paradigma reflexivo pressupõe a educação com investigação.

      É evidente que existem diferenças radicais12 entre os dois paradigmas e suas

respectivas suposições. Visto que a maioria dos profissionais responsáveis pelo

processo ensino-aprendizagem trabalham com o paradigma padrão, é normal que

não aceitem e, pelo menos, não creiam na possibilidade da educação como

investigação.

     Neste momento do trabalho ainda é prematuro falar em “reforma
educacional”13, mas é evidente se queremos uma educação como investigação, é

necessário haver as devidas mudanças paradigmáticas quanto à quais metas devem

ser atingidas, quanto à relação entre professores e alunos, entre alunos e conteúdo

e, principalmente, sobre o que é ensinar.

      A pergunta sobre o que é ensinar deve ser encarada de maneira ambígua,

assumindo entre outras coisas as formas de “o que é possível ensinar?”, “como é

possível ensinar” e “quando que os alunos aprendem?”. Lipman nos destaca que no
paradigma padrão se supõe que os alunos “pensam” se aprendem14 o que lhes foi

ensinado, enquanto que no paradigma reflexivo os alunos pensam se participam
ativamente da Comunidade de Investigação.15(LIPMAN, 1995, p. 30)

     Com isto temos em linhas bem gerais as diferenças entre a prática

educacional padrão e a prática crítica e podemos avançar um pouco mais adentro

do conceito de Comunidade de Investigação de Lipman. Talvez já explorando a ideia
de educação como investigação, além do conceito de ensinar, o filósofo encara

outros conceitos básicos para qualquer teoria da educação, tais como:

questionamento, comunidade, racionalidade, criatividade e julgamento. Ao contrário

da maioria dos pensadores da tradição filosófica, Lipman não tenta explicar de

maneira clara os conceitos que está trabalhando, ele se utiliza de sua própria teoria

acerca do ensinar através da investigação e trabalha sempre com tais conceitos de

forma difusa, discutível, ambígua e, em alguns casos, até inexplicável.



 Este texto faz parte do trabalho chamado “Crítica a Escola” escrito por mim, Fabio Goulart. Para fazer o Download do trabalho Completo CLIQUE AQUI. Todos os dias será postado um novo texto deste trabalho aqui no site! Boa Leitura!


11 No texto do autor usa a expressão “no mundo”, porém resolvi substituir pela expressão “o seu

mundo”, pois julgo que cada aluno carrega em si um próprio mundo de conhecimento que precisa ser

confrontado com o mundo dos outros membros da comunidade de investigação afim que se

desenvolva o pensar critico acerca de si mesmo e de suas convicções acerca do mundo e dos fatos.


12 Falo em “diferenças radicais” no sentido de expressar que estas diferenças estão nas raízes dos

respectivos paradigmas, mas que também que são diferenças acentuadas e decisivas para

compreensão e aceitação das respectivas suposições.

13 Durante todo este trabalho ainda deve continuar prematuro falar sobre esta questão, afinal esta é

apenas a minha monografia de conclusão do curso de graduação em filosofia, é o primeiro grande

passo que pretendo dar em uma longa caminhada entre a educação e a filosofia, entre o educar e o

filosofar. Por isso mesmo com as conclusões que aqui serão apresentadas julgo que ainda estarei

muito longe de falar em “reforma educacional”

14 Em alguns casos, este “aprendem” é tão limitado que toma a forma de “decoram informações”.

15 Mais do que uma simples diferença, esta diferença conceitual sobre o que é “conhecer” . É um

motivo pelo qual pensadores e educadores que partem dos pressupostos da educação tradicional

poderão ter certa aversão a teoria da comunidade de investigação.
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