quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

1.3 A RACIONALIDADE DA ESCOLA

      No fatídico ano de 2006 fui obrigado por lei a servir no exército brasileiro. De
fato sou voluntário a representar e defender meu país em qualquer circunstância,
mas não era voluntário para ficar um ano preso em um quartel seguindo ordens
burocráticas e tendo quase todas minhas energias físicas e psicológicas sugadas
em prol de objetivos banais e que jamais ficavam claro para nós.
     Eu e os outros milicos éramos obrigados a marchar horas e mais horas
abaixo do Sol forte, tínhamos que devorar nossos almoços em menos de um minuto,
precisávamos montar e desmontar os fuzis uma vez após a outra por milhares de
vezes, entre tantas outras atividades irracionais que necessitávamos realizar. Senti-me
rodeados por ignorantes, mas em pleno auge de meus dezoito anos e já iniciado
na faculdade de filosofia, percebi que todas as missões absurdas que tínhamos que
realizar eram mais que simples ordens vindas daqueles que estavam por cima na
cadeia hierárquica, eram ordens que visavam a um fim que é a racionalidade do
Exército, pelo menos para Lipman. (LIPMAN, 1995, p. 21)
     As ordens militares que recebíamos visavam nos adestrar para o combate e
para a vitória militar, ou como bradava o senhor Capitão Menezes após cada
formatura semanal: “O exército poderá ficar cem anos sem ser acionado, mas não
poderá ficar um minuto sem estar preparado”.
     Tal como o exército, a Escola é uma instituição burocrática, detentora de uma
racional distribuição de autoridade e hierarquia, porém seus objetivos são muito
diferentes. Não se deve adestrar crianças para o combate em uma escola! O
objetivo da Escola enquanto instituição deve ser a formação de pessoas educadas e
razoáveis. Para Lipman ser razoável não significa fazer uso da racionalidade pura.
Significa o uso da racionalidade temperada por doses de julgamento.9 Algo que falta
 e precisamos em uma sociedade democrática, exatamente por isso que a Escola
 deve buscar ter sempre estes objetivos em vista.
      Para atingir estes objetivos o filósofo segue a seguinte lógica:

      1° Uma escola não pode agir como se fosse uma empresa, visando o lucro e
 o bem-estar de seus donos e administradores;

      2° Uma escola deve tratar razoavelmente seus aluno s se deseja que eles se
 transformem em seres razoáveis;

      3° Deve sempre existir “razões melhores” para usar determinados currículos e
 textos, deixando tantos outros de lado;

      4° Crianças educadas em instituições que se fundamentam na razão têm
 mais possibilidades de serem razoáveis do que crianças educadas sobre métodos
 irracionais;

      5° Crianças educadas sobre métodos irracionais geralmente se tornam
 adultos mais irracionais.

      .: Portanto, se desejamos mais pais que sejam mais racionais na criação de
 seus filhos no futuro, é necessário que a Escola comece a ser mais razoável hoje.
 (LIPMAN, 1995, p. 22)

      É possível educar para a racionalidade sem ensinar a pensar? No livro “O
 Pensar na Educação” (LIPMAN, 1995, p. 22) é comentado que Kant enfrentou este
 mesmo problema ao considerar a possibilidade de ensinar as pessoas a pensar por
 si mesmas enquanto crianças. Mas ele mesmo alerta que devemos ter em mente
 que a racionalidade de Kant é muito diferente da sua. Para Kant a racionalidade
 estava baseada na obediência voluntária de cada indivíduo a princípios
universalmente generalizáveis, enquanto que para ele a racionalidade é o
 compromisso do desenvolvimento da investigação por parte de cada indivíduo.







Este texto faz parte do trabalho chamado “Crítica a Escola” escrito por mim, Fabio Goulart. Para fazer o Download do trabalho Completo CLIQUE AQUI. Todos os dias será postado um novo texto deste trabalho aqui no site! Boa Leitura!


9 Para Lipman, o julgamento é um uma espécie de arte e, devido a isso, poder-se-ia argumentar que

não pode ser ensinado. Para o filósofo, saber se uma virtude, tal como o julgamento, pode ser

ensinada é uma questão que surgiu ainda em Platão, no diálogo entre Sócrates e Ménon(PLATÃO,

1992), mas que permanece atual até hoje (LIPMAN, p. 14 e 377). A filosofia da educação não

necessita responder esta pergunta neste momento, pois mesmo que futuramente se consiga provar

que uma virtude realmente não possa ser ensinada, todos desde já concordamos que habilidades e

virtudes como a capacidade de julgar não podem ser reprimidas ou omitidas no processo

educacional. Assim sendo, neste momento devemos buscar formas de disponibilizarmos um

ambiente escolar adequado para que se possa fortalecer e exercitar estas virtudes. Como será

expostos nas próximas páginas deste trabalho, a proposta de Lipman para esta questão é a

comunidade de investigação.

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